Todos nós sabemos que a web 2.0, como blogs e redes sociais, nos
proporcionam um mundo de possibilidades sem fronteiras. A todo momento, novas
amizades são realizadas, milhares de fotos e vídeos são compartilhados e, cada
vez mais, as pessoas – conhecidas ou não – sabem dos nossos gostos, crenças,
opiniões e até sobre nossa intimidade em apenas um click. Mas o que acontece
quando este comportamento estrapola os limites da privacidade? Será que
não estamos abrindo as janelas do nosso sagrado para que o mundo tenha acesso?
“Eu sempre digo que rede social
é espaço público. O que você não faria e não falaria na rua, não faça e não
fale nas redes sociais”, diz a especialista e palestrante internacional
sobre Marketing Digital, Martha Gabriel. Segundo Martha não faz sentido
ficar postando, o tempo todo, o que estou fazendo, onde e por quê. “A gente tem
de pensar muito no ‘por que’ está colocando aquela informação no ar, pois, às
vezes, estamos nos espondo para correr riscos depois; e isto dá poder para as
pessoa nos manipularem”, explica a especialista.
A verdade é que com as plataformas on-line de relacionamentos, o ser
humano deu vasão ao seu desejo mais profundo: de se relacionar. No entanto,
este comportamento pode esconder problemas de cunho psicológico como carência
afetiva, desejo de status e poder. É como se a pessoa pudesse medir o seu grau
de importância e auto-estima pelo número de seguidores e pelo feedback que seu
‘amigos’ na rede lhe oferecem.
“Muito
se fala no Brasil de inclusão digital, mas pouco se fala de educação digital”
Martha Gabriel
“Hoje, as novas tecnologias estão dando às pessoas um status que elas
não tinham. Então, o fato de ter milhares de seguidores, de possuir a mais nova
tecnologia como celular, tablet, etc., está dando a elas o possibilidade do
‘ter’. Então, elas acabam esquecendo de ‘ser’ neste mundo virtual”, explica
Renata Maransaldi, que integra o projeto ANJOTI da Associação Viver Bem, a qual
auxilia no tratamento de pessoas com Transtornos do Impulso, como vício em
jogos, compras e internet.
A superexposição no trabalho
A superexposição pode arrasar a vida profissional de uma pessoa. Em
abril deste ano, uma enfermeira de Olinda (PE) postou uma foto em seu Orkut
onde aparecia numa Unidade de Terapia Intensiva (UTI) junto à sua equipe, num
clima de alegria e confraternização. O problema é que o hospital não entendeu
desta forma e a funcionária foi demitida por justa causa, com alegação de que
as fotos geraram comentários de mau gosto e exposição sem autorização de
funcionários e pacientes. O Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região de
Pernambuco concordou com os argumentos do hospital.
“Imagine se uma pessoa apresenta um atestado dizendo que não pode trabalhar, mas quando seu chefe vai checar
o Facebook dela, na verdade ela estava na praia ou fazendo algo que mostre que
ela não estava doente. Isto já pode ser usado contra ela na justiça”, explica
Martha Gabriel.
Educação digital é a solução
A superexposição está aí e devemos, cada vez mais, conviver com este
fenômeno, o qual é ao mesmo tempo virtual e humano. Mas o que fazer se já estamos
mergulhados neste mar de possibilidades on-line?
“Muito se fala no Brasil de
inclusão digital, mas pouco se fala de educação digital. Se nós incluirmos sem
educar, vamos estar colocando uma arma nas mãos das pessoas contra elas
mesmas”, conclui Martha Gabriel.
Sagrado é, etimologicamente, aquilo que o mundo não tem acesso. Todo
ser humano tem o seu espaço sagrado, reservado, intocável e inviolável, mas se
não expandirmos este conceito para nossos perfis na rede, vamos sofrer um
colapso de identidade, seja ela digital ou humana.
Por Daniel
Machado
produtor do Destrave
produtor do Destrave
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