Não há como seguir e servir a Jesus sem tomar a cruz. São
Pedro disse:
“Na medida em que participais dos
sofrimentos de Cristo, alegrai-vos, para que na revelação de sua glória possais
ter uma alegria transbordante. Bem- aventurados sois se sofreis injúrias pelo
nome de Cristo, porque o Espírito de glória, o Espírito de Deus repousa em
vós.” (1Pd 4,13-14).
Sentimos em
nossa carne, que a conquista da perfeição cristã é algo que supera as nossas
forças humanas, por isso os santos parecem aos nossos olhos como sobre-humanos.
Na verdade, foi
com o auxílio da graça de Deus que chegaram ao estado da bem-aventurança.
“O que é impossível à natureza, é possível à graça de Deus”, disse Santo
Agostinho. Ele ensina que a graça não anula e nem dispensa a natureza, precisa
dela e a enriquece.
Como Deus
nos vocacionou para sermos santos, Ele dirige a nossa vida e os nossos passos
sempre nessa direção. Na medida que a nossa liberdade o consente, Ele dirige os
nossos caminhos para esse fim. É por isso que nos acontecimentos de nossa vida
muitas vezes não entendemos o que nos sucede. Na verdade é a mão invisível de
Deus a nos conduzir.
Edith Stein
dizia que não sabia para onde ia, mas que estava em paz porque tinha
certeza de que era Deus quem a conduzia. O médico não prescreve o medicamento
que agrada ao paciente, mas aquele que o cura. Assim também, como o Médico das
almas, Deus nos apresenta muitas vezes remédios amargos, cruzes, mas é para a
nossa santificação. As provações e as tentações que Deus permite que
nos atinjam são para o nosso bem espiritual.
A Bíblia nos
dá essa certeza. Àqueles que querem ser seus discípulos, o Senhor exige:
“Aquele que
quer ser meu discípulo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz, a cada dia, e
siga-me.” (Lc 9,23). Após a disposição interior de “renunciar a si
mesmo”, é preciso a mesma disposição para “tomar a cruz cada dia.”
Foi com a
cruz que o Cordeiro de Deus tirou o pecado do mundo, e é também com a
cruz que Ele tira o pecado enraizado em cada um de nós. Sabemos que o
sofrimento não é obra de Deus, é a consequência do pecado.“O salário do pecado
é a morte.” (Rom 6,23).
Para dar um
sentido ao sofrimento, Jesus o transformou em“matéria prima” da nossa salvação.
Quem quer
amar a Jesus não deve ter medo da cruz e deve tomá-la, resolutamente, “a cada
dia”, como disse Jesus, porque é ela que nos liberta.
Para
entender essa pedagogia divina vamos examinar o que nos ensina a Carta aos
hebreus, no capítulo 12, sobre as provações. Começa dizendo que assim como
fizeram os santos, devemos nos “desvinciliar das cadeias do pecado” (v.1), enfrentando
o “combate que nos é proposto”, como Jesus, que “suportou a cruz” (v.2), sem se
deixar “abater pelo desânimo.” (v.3).
Em seguida
mostra-nos que tudo é válido na luta contra o pecado: “Ainda não tendes
resistido até ao sangue, na luta contra o pecado.” (v.4).
Nesta luta
vale a pena derramar até o próprio sangue, a própria vida. Em seguida a Carta
recorda a citação dos Provérbios que diz: “Filho meu, não desprezes a
correção do Senhor. Não desanimes, quando repreendido por ele, pois o Senhor
corrige a quem ama e castiga todo aquele que reconhece por seu filho.” (Prov.
3,11).
Assim como
nós pais terrenos, corrigimos os nossos filhos, porque os amamos, Deus também o
faz conosco. Quantas vezes eu precisei segurar no colo os meus filhos, quando
ainda pequenos, para que o farmacêutico lhes aplicasse uma injeção. Só o amor
por eles me obrigaria a tal ato, mesmo com o seu choro nos meus ouvidos.
Assim também
Deus faz conosco; por amor, permite que as provações arranquem aservas daninhas do
jardim precioso de nossa alma. A palavra de Deus diz: “não desprezes a correção
do Senhor” (v.5), portanto devemos acolhê-la, amá-la, mesmo que nos incomode. E
ela continua: “Estais sendo provados para a vossa correção: é Deus que vos
trata como filhos. Ora, qual é o filho a quem seu pai não corrige?” (v.7).
Somos filhos legítimos de Deus e não bastardos, por isso Ele nos corrige (v.8).
E a palavra de Deus nos diz que Ele nos corrige “para nos comunicar a sua
santidade.” (v.10).
Aí está a
razão pela qual Jesus nos manda abraçar a cruz de cada dia. É pelas pequenas e
numerosas cruzinhas de cada dia que o Artista Divino vai moldando a nossa alma,
à sua própria imagem, assim como o artista vai esculpindo a bela imagem na
madeira.
A nós cabe
ter paciência e aceitar cada sofrimento, cada revés, cada humilhação, cada
doença, enfim, cada golpe do Artista, com resignação e ação de graças. A obra
será bela. A nossa natureza, é claro, sempre se revolta, se impacienta e se
agita desesperada, e com isso, só faz aumentar ainda mais o sofrimento e agrava
a situação.
O segredo
para sofrer com paciência é não olhar nem para o passado e nem para o futuro,
mas viver, na fé, o presente. Um dos grandes conselhos que Jesus nos deixou no
Sermão da Montanha foi este: “Não vos preocupeis pois com o dia de amanhã (…).
A cada dia basta o seu mal.” (Mt 6,34).
Deus sempre
nos dará a graça necessária para carregar, com determinação, a cruz de cada
dia. Cada um de nós tem a sua própria cruz, única e exclusiva, pois para cada
tipo de doença há um remédio próprio. Não rejeitemos a cruz como crianças que
rejeitam o remédio amargo que cura.
Prof. Felipe Aquino
Retirado do
livro: “Só por ti Jesus”
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